Resenha – Pilares da Terra

A Vida de Uma Cidade e de Seu Povo

Capa bem legal, embora possa passar uma impressão errada

Em Pilares da Terra(Editora Rocco, 940 paginas, R$ 69,00), fica claro o porquê de Ken Follet ser conhecido principalmente pelos seus romances baseados em um pano de fundo histórico. Começando no ano de 1123 e terminando em 1174, o livro mostra o percurso de toda uma geração, como eles afetam onde vivem e o que fazem para sobreviver à época de atribulações conhecida como A Anarquia, período no qual a Inglaterra foi dividida por uma guerra civil que durou quase trinta anos.

A história do livro, contudo, não se foca nos acontecimentos reais, utilizando eles para criar o clima do livro e sua influencia para motivar muitos dos conflitos da trama. Personagens históricos como o Rei Estevão (Stephen) e a Rainha Matilda figuram em diversos pontos do livro, no entanto se mostrando como personagens de apoio. Sem apelar para uma exploração das guerras e batalhas que aconteceram, o livro mostra o desenvolvimento da pequena cidade de Kingsbridge, da ascensão e queda de seus moradores mais proeminentes, e principalmente, na construção da catedral da cidade.

Tanto quanto o período conflituoso da época, a Catedral de Kingsbridge é um dos maiores motivadores para a história do livro. Com sua construção demorando quase trinta anos, a majestosa igreja gótica assiste a pequena vila ao seu redor se transformar em uma cidade com um mercado ativo, atrapalhando parte da economia do feudo de Shiring e atraindo a inveja e o desgosto de inimigos que são feitos ao longo do tempo pelos moradores. Períodos de pobreza, dificuldades administrativas, ataques à cidade e anos de colheita ruim são diversos dos contratempos que atrasam a construção da catedral e dificultam a vida de Kingsbridge.

O esquema de uma catedral gótica

Os personagens principais do livro são todos fictícios e vem de diversos segmentos sociais. Há o prior Phillip, um religioso justo e determinado a melhorar a situação do priorado de Kingsbridge, Tom, um construtor que sonha em elevar aos céus uma Catedral, Jack, enteado de Tom que toma o sonho do padrasto como sua herança e Aliena e Willian, dois filhos da pequena nobreza, membros de famílias que se tornaram inimigas e que carregam seu antagonismo até o fim de sua vida. Apesar de serem tridimensionais, com defeitos e virtudes, a posição dos personagens é um tanto quanto maniqueísta, mesmo todos eles possuindo crimes e pecados, fica óbvio desde o inicio da história quem é “bom” e quem é “mal”. E todos eles, e muitos dos personagens secundários e outros antagonistas, conseguem ser amados ou odiados.

Durante a passagem dos anos, é possível visualizar não só a evolução de Kingsbridge, como também de alguns personagens que circulam por ela. Jack começa como um garoto excêntrico e esperto mas sem muito contato social, por ter vivido a vida toda na floresta, contudo o passar dos anos o fazem se apaixonar pela arquitetura e construção, além da matemática, tornando-o um grande construtor. Aliena, por sua vez, começa como uma jovem rica e que não precisa se esforçar muito, mas perde seu pai, sua casa, e a região que sua família comandava, jovem e mulher tendo que aprender a se cuidar enquanto cuida e patrocina o irmão mais novo como cavaleiro.

Não são todos os personagens que sofrem de tais mudanças, contudo. Embora com o passar do tempo o prior Phillip queixe-se de sentir-se velho, não há mudança alguma em sua conduta, o mesmo pode se dizer de Willian, que apesar de se tornar um guerreiro competente e sedento, nunca deixa de ser um garoto inseguro ou de superar os mesmos medos que possuía quando jovem. Outro problema é que, enquanto os personagens primários recebem um bom tratamento, alguns dos secundários que ficam ao pano de fundo e se mostravam interessantes no início, acabam sendo esquecidos e sequer chegam a ter seu destino apresentado, como é o caso de Martha, meia-irmã de Jack e Ellen.

Alguns personagens do livro no seriado homônimo.

A narrativa utilizada no livro, em terceira pessoa, mas centrada em diferentes personagens ao longo dos capítulos e Ken Follet tenta aproveitar ao máximo desse recurso. Conforme os capítulos passam não se vê apenas os sentimentos, pensamentos e personalidade dos protagonistas, mas também como as coisas funcionam sob a sua visão, como o mundo à sua volta lhes parece. Na infância de Jack, tudo é maravilho à sua maneira, os castelos são imensos, existem pessoas em todo lugar e o mundo não acaba, tudo muito diferente da vida que levava na floresta. Quando Tom é o narrador, o leitor aprende sobre técnicas arcaicas de construção civil, vê os planos para uma catedral, o que é importante, como gerenciar uma equipe, abobadas, arcos, janelas, vitrais. Com Phillip se desvela a visão de um homem temente a Deus, que entende da igreja e de suas crenças e luta contra o pecado do orgulho. Já Aliena entende como funciona a vida na corte, e desvela todo o choque cultural de alguém que era rico e perdeu tudo, nos capítulos centrados na personagem é possível ver mais os modos da classe baixa e também os esforços de quem vivia do comércio na época.

Apesar de tocar temas religiosos, como a construção da catedral, e dramas pessoais e familiares de diversos personagens, a trama de Pilares da Terra, como um todo, se mostra uma história sobre intriga política. Tudo é, de uma forma ou de outra, centrado em Kingsbridge, mas são as manobras políticas, as traições e os engodos que vão pouco a pouco alterando a situação do feudo de Shiring. Movimentada por personagens gananciosos ou que apenas pensam alto demais, desde seu início eventos como a participação de Phillip na guerra e sua pequena conspiração para se tornar prior, os Hamleight tomando por ataque o feudo de Shiring e principalmente o arcediago Waleran Bigod tentando ascender na igreja, Pilares da Terra mostra que é sua história é movida pela oposição de diversos interesses e da vida das pessoas da região.

A edição especial da Rocco é digna do nome. Com capa dura, em um volume único de mais de 900 paginas, o livro apresenta um material de alta qualidade e resistente, além de uma ilustração muito competente. A tradução parece ser de qualidade, nunca trazendo problemas para a leitura e o preço (R$ 69,90), embora naturalmente caro, está muito mais em conta do que outras publicações em formato semelhante.

 Renan Barcellos, que tinha meio dedo de suco de acerola

e que só ouvia a guitarra anyways

2 comentários sobre “Resenha – Pilares da Terra

  1. Sério que a mina chama Aliena? xD
    Boa resenha, se bem que acho que não leria esse livro em todo caso. Quanto tempo eu não ouvia essa música do drangonforce.

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